Desde o início da nossa evolução, enquanto mônadas celestes, simples “princípios inteligentes” estagiando nos seres inferiores da criação, a vida material assumiu um papel preponderante no nosso desenvolvimento, dentro de um mecanismo que fazia da luta pela subsistência o principal fator de autossuperação e conquistas. Séculos e séculos nesta relação simbiótica com a matéria até o surgimento dos rudimentos conscienciais, fizeram que déssemos a ela a supremacia de que goza sobre o espírito.
Incapazes de encontrar no recôndito da nossa alma todos os recursos que ela abriga para a construção da nossa felicidade eterna, distanciados de nós mesmos, criamos uma forma mecânica de pensar e viver para fora. E somente fora de nós é que conseguimos identificar os fatores com os quais tentamos valorizar a existência e a vida, o ser, seus sentimentos e emoções. Fora de nós é que buscamos as raízes de nossas alegrias ou tristezas, dos momentos de impaciência ou de raiva, dos arroubos de coragem ou dos acessos de medo. Até mesmo Deus está fora de nós, distante anos-luz a se perder no infinito do tempo e do espaço.
Distanciados da nossa própria essência e do “Deus em nós”, seguimos solitários, vazios, na busca inútil dos fatores externos que, julgamos, nos levarão à vivência plena do amor, da alegria, da paz e da harmonia.
Também são exteriores os parâmetros com que medimos a nós próprios e aos outros. A beleza restringe-se à aparência física; o sucesso conta-se pelas moedas acumuladas; a aprovação social requer fama, status ou cargos elevados; até mesmo a inteligência mede-se pelo talhe da grife famosa.
Essa forma de pensar e agir subordinada ao que está fora de nós constitui o que denominamos dependência espiritual, característica natural do atual estágio do nosso processo evolutivo. E é esse modo de pensar que nos direciona para os recursos e soluções exteriores sempre que desejamos resolver conflitos internos.
Se estamos tristes responsabilizamos as vicissitudes da vida, as pessoas que nos cercam e buscamos a alegria nas festas, na bebida, nos entretenimentos vários que a sociedade que engendramos nos disponibiliza. Se carecemos de amor, tudo fazemos para que ele venha de fora, das pessoas que nos cercam. Isolados de Deus e de nós mesmos e ansiosos pela aprovação alheia, viciamo-nos em plásticas rejuvenescedoras e em academias, Se nos sentimos incapazes de conquistar o padrão que usamos como medida da nossa grandeza, recorremos à maledicência rebaixando os que nos cercam, ou à mentira recriando nossa própria realidade. Se nos sentimos inferiorizados, recorremos aos diplomas e títulos, ao acúmulo de bens, à busca da fama, ou nos alienamos nas realidades virtuais computadorizadas ou nas drogas. E é assim, buscando a felicidade fora de nós, que caímos nos vícios de toda ordem.
Portanto, está na dependência espiritual, ou seja, nesse modo de pensar e viver para fora, nessa dependência do espírito em relação ao mundo exterior, a raiz de todos os vícios. (“Todos os vícios são inerentes ao espírito.” Hahnemann – O Evangelho Segundo o Espiritismo- cap. IX: 10)
Presos nesse estágio da nossa evolução, em nenhum momento nos ocorre que a alegria, o amor, a paciência, a paz, a harmonia, a perfeição e tudo o mais que compõe a felicidade que tanto almejamos, são recursos disponíveis em nosso íntimo e provenientes da Fonte Maior, Primária e Causal ou, como nos asseverou o Mestre, o “reino de Deus está dentro de nós”. Na medida em que nos conscientizamos dessa verdade, vamos vencendo a dependência espiritual e, consequentemente, as dependências de toda ordem (jogo, drogas, sexo etc.). Gradativamente as recaídas se tornam menos prováveis, nos fortalecemos e tomamos as rédeas da nossa vida.
Isso significa que estamos aprendendo a pensar e a viver como espíritos, voltados para o “Deus em nós”, buscando nessa fonte as soluções para os nossos obstáculos íntimos.